Primeiro, é imprescindível conceituar o termo gaslighting que ainda não tem tradução em português, mas há tempos os psiquiatras, psicólogos e terapeutas tratam pessoas que são vítimas da gaslighting. Mas, o que esse termo quer dizer? É uma violência psicológica sutil que destrói a autoimagem, autoestima, o amor-próprio, e, muitas vezes, a sanidade mental.
Milhões de pessoas estão tomando antidepressivos e remédios que estabilizam o humor. Segundo as últimas pesquisas, 100 milhões de caixas de medicamentos controlados foram comercializados em 2020, um crescimento de 17% em comparação ao ano de 2019 e não para por aí, pois em 2021 as vendas aumentaram mais 14%. E quais são os motivos que levaram as pessoas a fazerem parte desse grupo de milhões de pessoas que precisam de ajuda? Inúmeros são os motivos: rejeição, abandono, manipulação, humilhação, traição e tantos outros traumas.
Também é preciso citar que o Brasil é um país machista e, como consequência, ainda é o 5º país que mais mata mulheres. Em 2020, foram registradas 105.671 denúncias de violência contra a mulher nos canais: Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) e Disque 100 (Direitos Humanos), segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
E sabe por que esses dados foram citados aqui? Para expandir a consciência sobre o panorama atual que o país vive e, principalmente, para aprofundar a gaslighting que é uma dinâmica que vem crescendo nos últimos anos que é quando o abusador cria situações para que o outro sinta insegurança, medo, frustração e se desestabilize emocionalmente.
O gaslighting acontece normalmente com mulheres e sabe por quê? Por conta do machismo e do patriarcado como citei acima. Este tipo de dinâmica (violência), envolve poder e, por isto, o abusador faz a vítima se sentir inferior e está sempre errada nas suas atitudes e sentimentos.
As frases mais comuns usadas são:
- Você é muito dramática;
- Isso é coisa da sua cabeça;
- Você vai sempre pela cabeça das pessoas;
- Você prefere o teu trabalho a família;
- Você está imaginando coisas;
- Eu nunca disse isso pra você;
- Você tem tudo e sempre está insatisfeita;
- Eu estou brincando com você;
- A culpa é sua;
- Você entende tudo errado;
- Eu sou um ótimo marido e você sempre quer mais de mim.
É importante alertar que estas frases dependendo do contexto parecem “inofensivas”, mas para um abusador que manipula a sua vítima, psicologicamente, elas são combustível para uma manipulação emocional que vira uma dinâmica de poder e submissão dia após dia. Como consequência, a vítima passa a ter crises de ansiedade, insônia, muitas vezes, é diagnosticada com depressão e, em outras, até o transtorno do pânico, etc.
Há uma outra estratégia usada pelo abusador (gaslighting) que é usar palavras amáveis, assim a vítima fica confusa e fica em dúvida em relação ao que acontece no seu dia a dia e, principalmente, em como se sente com a manipulação silenciosa. Fazê-la acreditar que ele é um bom homem e que ela (a vítima) é “louca” é o objetivo do abusador.
Gasligthing é um abuso psicológico previso no inciso II do artigo 7º da Lei Maria da Penha[1]
“II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)”
Mas, este crime não só acontece em um relacionamento amoroso, segundo um levantamento feito pela Heach Recursos Humanos. A empresa ouviu 400 funcionárias de 280 empresas. 73,2% (239 mulheres) das entrevistadas disseram que foram vítimas de abusos (Gasligthing)[2]. Nota-se que esse crime ultrapassa a vida a dois e é preciso que as mulheres tenham mais acesso a informações sobre a dinâmica desses abusos, quer dizer, ter consciência que esses abusos são considerados um crime.
Foi realizada uma pesquisa pela BR Rating com 486 empresas que mostra o panorama brasileiro em relação a diferença de gênero nos cargos mais altos das organizações: apenas 3,5% têm CEOs mulheres, 16% em cargos de diretoria e 19% em cargos de gerência[3]. Estes dados mostram uma cultura ainda machista. Mas, a intenção em trazer os estes dados é de mostrar quem são os chefes e quem tem mais poder, assim, as mulheres se tornam mais vulneráveis e, como consequência, podem virar vítimas de gerentes, diretores e até do CEO da empresa que trabalha.
Então, como se prevenir? É imprescindível se fortalecer emocionalmente para adquirir autoconfiança, autoestima, amor-próprio e conseguir dar um fim aos abusos.
[1] https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868630/inciso-ii-do-artigo-7-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006
[2]https://www.metroworldnews.com.br/foco/2022/03/27/pesquisa-3-em-cada-4-mulheres-relatam-ja-ter-sofrido-gaslighting-no-trabalho/)
[3] https://www.cnnbrasil.com.br/business/apenas-3-5-das-grandes-empresas-tem-mulheres-como-ceo-aponta-pesquisa/